A vontade que bate de vez em quando é ir pro espaço. As viagens pra Marte são caras e raras, mas cada vez mais civis estão conseguindo ir. Com aquela promoção que talvez chegue mês que vem é capaz que dê pra assegurar um lugar daqui a dois anos.
O que todos falam é que é isolado, e que todo mundo que vai depende apenas de si mesmo. Nada de resorts ou hotéis. Eles precisam de exploradores. Os pioneiros costumam se tornar proprietários das terras que exploram. Um velho oeste espacial. Um ambiente menos hostil.
Aí talvez seja possível recomeçar. Entrelaçar os dedos com os dos dele e respirar fundo. É tudo que precisamos.
É tão idiota, porque alguém buscaria tanta dor? Por que quando o coração se parte é tão difícil conserta-lo? Porque quando o coração se parte parece que ele literalmente está se partindo? Dizem que a dor fica no cérebro, sinapses nervosas, e dá pra entender isso na maior parte do tempo. Mas coração partido? Doí no coração mesmo. A gente sente o amor no coração.
A ideia é voltar ao inicio. Talvez naquele planeta novo (os humanos acham que tudo que eles acabaram de encontrar é novo. Marte é infinitamente mais velho do que o planeta de origem) seja mais fácil lembrar o porque dos dois. O porque de pertencermos um ao outro. Parar de correr.
Ficar quieto e ver.
E aprender que agarrar forte e não deixar que o outro se mexa, normalmente é a pior coisa possível. Ninguém gosta de ficar preso. E Marte é o único lugar que você pode ficar apenas consigo mesmo. As cidades são todas claustrofóbicas, e nenhum lugar deixa de ser vigiado. Impressionante achar que um dia alguém achou que Google Earth era uma boa ideia.
A esperança ainda não está perdida, mas é difícil.
O toque é difícil e arde. Marte é mais frio ou mais quente? O peito é quente e as mãos são frias. A solução é enfiar os dedos por debaixo das cobertas, debaixo da camisa e buscar o palpitar do coração alheio.
Ficar quieto até se aquecer. Até que os batimentos se estabilizem. Até que as extremidades peguem fogo.
Vai ser preciso aprender mais. Nenhum ignorante vai ser permitido no planeta vermelho. Mas os intelectuais não querem ir. São fracos demais. É preciso coração. Lá é onde se encontra o Deus da guerra. É necessário suportar.
Mas basta um sorriso dele para que eu fraqueje.
Por favor, não seja tão corajoso. É difícil de acompanhar.
Sabe que eventualmente vamos tropeçar. Desde que a gente não caia de lá de cima. No espaço não tem ar, e aí fica difícil respirar.
E a gente não tem asas. Não somos anjos. Não temos graça. Graça divina.
Não me deixa pra trás. Eu posso ir até metade do caminho. A gente se encontra no meio.
E vai ser tudo mais devagar, porque não existe prazer na pressa. Todo prazer deve durar. Do contrário é apenas uma ilusão.
Não adianta correr. Pra chegar em Marte só de ónibus espacial.
Mas deita junto de mim que passa rápido. Não rápido demais. O suficiente pra aproveitar o resto do dia. Mas fica quietinho, pra eu poder escutar seu coração com meu ouvido encostado no seu peito. Em Marte vai ser assim todo dia. Andar de mãos dadas até os canions vermelhos e adormecer ao relento. Ficar bem quietinhos juntos.
Era pra gente saber melhor. Marte tá tão longe. A gente tem que encontrar aqui mesmo esse lugar. Entre quatro paredes bem terráqueas.
Pode até dar medo. Eu tenho medo o tempo todo. Mas me dá sua mão que eu te dou meu coração.
Marte é vermelho e fica parado. Todo resto é movimento.
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