sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Be still


A vontade que bate de vez em quando é ir pro espaço. As viagens pra Marte são caras e raras, mas cada vez mais civis estão conseguindo ir. Com aquela promoção que talvez chegue mês que vem é capaz que dê pra assegurar um lugar daqui a dois anos.
O que todos falam é que é isolado, e que todo mundo que vai depende apenas de si mesmo. Nada de resorts ou hotéis. Eles precisam de exploradores. Os pioneiros costumam se tornar proprietários das terras que exploram. Um velho oeste espacial. Um ambiente menos hostil.

Aí talvez seja possível recomeçar. Entrelaçar os dedos com os dos dele e respirar fundo. É tudo que precisamos.

É tão idiota, porque alguém buscaria tanta dor? Por que quando o coração se parte é tão difícil conserta-lo? Porque quando o coração se parte parece que ele literalmente está se partindo? Dizem que a dor fica no cérebro, sinapses nervosas, e dá pra entender isso na maior parte do tempo. Mas coração partido? Doí no coração mesmo. A gente sente o amor no coração.

A ideia é voltar ao inicio. Talvez naquele planeta novo (os humanos acham que tudo que eles acabaram de encontrar é novo. Marte é infinitamente mais velho do que o planeta de origem) seja mais fácil lembrar o porque dos dois. O porque de pertencermos um ao outro. Parar de correr.

Ficar quieto e ver.
E aprender que agarrar forte e não deixar que o outro se mexa, normalmente é a pior coisa possível. Ninguém gosta de ficar preso. E Marte é o único lugar que você pode ficar apenas consigo mesmo. As cidades são todas claustrofóbicas, e nenhum lugar deixa de ser vigiado. Impressionante achar que um dia alguém achou que Google Earth era uma boa ideia.

A esperança ainda não está perdida, mas é difícil.
O toque é difícil e arde. Marte é mais frio ou mais quente? O peito é quente e as mãos são frias. A solução é enfiar os dedos por debaixo das cobertas, debaixo da camisa e buscar o palpitar do coração alheio.
Ficar quieto até se aquecer. Até que os batimentos se estabilizem. Até que as extremidades peguem fogo.
Vai ser preciso aprender mais. Nenhum ignorante vai ser permitido no planeta vermelho. Mas os intelectuais não querem ir. São fracos demais. É preciso coração. Lá é onde se encontra o Deus da guerra. É necessário suportar.
Mas basta um sorriso dele para que eu fraqueje.
Por favor, não seja tão corajoso. É difícil de acompanhar.
Sabe que eventualmente vamos tropeçar. Desde que a gente não caia de lá de cima. No espaço não tem ar, e aí fica difícil respirar.
E a gente não tem asas. Não somos anjos. Não temos graça. Graça divina.
Não me deixa pra trás. Eu posso ir até metade do caminho. A gente se encontra no meio.
E vai ser tudo mais devagar, porque não existe prazer na pressa. Todo prazer deve durar. Do contrário é apenas uma ilusão.
Não adianta correr. Pra chegar em Marte só de ónibus espacial.
Mas deita junto de mim que passa rápido. Não rápido demais. O suficiente pra aproveitar o resto do dia. Mas fica quietinho, pra eu poder escutar seu coração com meu ouvido encostado no seu peito. Em Marte vai ser assim todo dia. Andar de mãos dadas até os canions vermelhos e adormecer ao relento. Ficar bem quietinhos juntos.
Era pra gente saber melhor. Marte tá tão longe. A gente tem que encontrar aqui mesmo esse lugar. Entre quatro paredes bem terráqueas.
Pode até dar medo. Eu tenho medo o tempo todo. Mas me dá sua mão que eu te dou meu coração.
Marte é vermelho e fica parado. Todo resto é movimento.


http://www.youtube.com/watch?v=_Nj_U6LlFQE




quinta-feira, 30 de abril de 2009

A little less sixteen candles, a little more touch me

"Porque se você for parar pra pensar, um filme adolescente é tão realista quanto um musical da Broadway."
É fofo ver você parado aí, com as mãos na cintura, empurrando o óculos da ponta do nariz, testando a verosimilhança do último "se não fosse por John Hughes não pensaria em existir".
"Quer dizer, porque é sempre a garota nerd que fica com o gostosão da escola? E o que acontece com o garoto nerd? Eles não merecem amar também?"
"Em Namorada de Aluguel o cara nerd fica com a popzinha. Em Vingança dos Nerds também."
Você dá de ombros e coloca outro dvd na prateleira.
"Mesmo assim, excessões."
Com o cabelo caindo no rosto, e a camiseta cinza um pouco grande demais vc parece bom o suficiente pra comer.
"Bom, eu acho que esse tipo de filme normalmente é direcionado pra garotas, e não garotos adolescentes. E é muito mais fácil quem for ir ver ser, ou ter sido, uma garota nerd que gosta do bonitão da escola do que o contrario. É realização de fantasias. Como dizem, comédias românticas servem como pôrno emocional pra mulheres. Comédias românticas adolescentes devem ser o equivalente a uma porno-chanchada leve."
Seu sorriso pra mim deixa de ser divertido e se torna predátorio.
"Porno-chanchada? E qual era a sua fantasia com o gostosão da escola?"
Você me puxa pra perto da parede e começa a beijar meu pescoço.
"Hum, sabe eu sempre gostei mais do angulo melhor amiga que é apaixonada pelo nerd gato que nem percebe que ela existe até o último minuto. Beeeeem mais realista."
Demora um tempo pra você responder, estando com a boca cheia e tal.
"Eu ainda acho esses filmes bobos."
"Você tem que pensar assim, enquanto a gente assiste 10 coisas, Ela é Demais, e, pra um estimulo mental maior, Garotas Malvadas, você perdia tempo e energia com Star Whores. Pelo menos a trilha sonora dos filmes bobos é sempre do caralho. Dancing with Myself é tão clássico."
"Puta que o pariu, porque você nunca usa saia?"
Até eu conseguir formar uma resposta coerente demora um tempo. É culpa sua.
"Culpe o pós-feminismo. Sempre me ensinaram que eu que tenho que usar as calças na relação."
Você ri no meu cabelo e é um dos melhores sons que eu já ouvi.
"Pelo menos com Star Whores eu aprendi alguma coisa."
Eu olho pra você com desafio.
"Só papo."
Você finge que não ouviu, tenta me distrair.
Funciona.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Aqueceu meu coração

[harry + hermione]



Aww, que lindo, e já faz tanto tempo...

What Be Your Nerd Type?
Your Result: Literature Nerd

Does sitting by a nice cozy fire, with a cup of hot tea/chocolate, and a book you can read for hours even when your eyes grow red and dry and you look sort of scary sitting there with your insomniac appearance? Then you fit this category perfectly! You love the power of the written word and it's eloquence; and you may like to read/write poetry or novels. You contribute to the smart people of today's society, however you can probably be overly-critical of works.

It's okay. I understand.

Drama Nerd
Artistic Nerd
Gamer/Computer Nerd
Anime Nerd
Musician
Science/Math Nerd
Social Nerd
What Be Your Nerd Type?
Quiz Created on GoToQuiz


Ha, awesome

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Oh céus!

Então eu vou ser sincera, eu ando escrevendo um trilhão de coisas diferentes ao mesmo tempo. Eu escrevo no caderno, no computador, até na minha caderneta de campo, no lugar que eu fui escavar dinossauros (awesome!) eu escrevi. Mas então Tereza, vc vai me perguntar, pq vc não posta nada aqui?
Hum, então, primeiro pq nada está terminado e segundo, bom, a grande maioria é fanfic, pq eu estou nessa fase em que eu quero pegar emprestado personagens. E terceira, meu eu ando gastando muito tempo na internet baixando séries, filmes e fazendo trabalhos.
Por enquanto vcs se contentem em eu escrever sobre as coisas que eu estou escrevendo e que talvez um dia eu vá terminar alguma.
O mais importante é a continuação (prequel) das loucas aventuras de Pedro e Ana, em que eu já tenho quase tudo pronto mas me falta o arremate. São dois personagens muito complexos que eu estou amando construir passo a passo e que eu quero que saia tudo certo, pq eu prevejo que vá revisita-los bastante. Eu já escrevi quase tres historias sobre eles e ainda tenho muita coisa pra contar. Essa ideia criativa mora no meu coração. Eu amo a ideia de série, de destilar informação aos poucos, sem contradizer o que já aconteceu anteriormente. E também nessa historia vai ter uma expansão do universo (que até agora é sobre os dois) que eu acho que vai ficar bem legal.
Depois é o master post pro Na Vitrine em que eu quero fazer uma lista dos filmes que pra mim todo mundo tem que ver pelo menos uma vez antes de morrer (sim, conceito roubado do rafael), mas que até agora só tem A lenda do cavaleiro sem cabeça e Some Kind of Wonderful (pq esse filme é tão perfeito?). Tem meio milhão de filmes que eu quero colocar, mas anda tão dificil eu saber quais são prioritarios e quais são só o meu gosto (ELEKTRA!!).
E ae eu tenho dois projetos fanfics suicidas que provavelmente só vão interessar a mim e a mim mesma. E eles são, digamos assim, ambiciosos. O primeiro, que eu já escrevi uma parte bem grande e to pensando em postar aqui e traduzir pro ingles pra postar em... algum lugar legal (não no fanfiction.net), é sóbre o que aconteceu com a Helga e o Arnold depois do filme. Sim, desde o momento em que as férias acabam até a Helga virar presidente (pq dur, obvio que ela vai virar), e tá tão sombrio e triste e grande e eu ainda nem cheguei no final do high school. E eu quero muito fazer justiça ao desenho e especialmente à Helga que um personagem tão do caralho que eu sempre tenho a impressão que to estragando ela.
Por último, que parece até uma piada, o que acontece quando Kara "Starbuck" Thrace, Jo Poliashek (de Facts of Life), Robin Scherbatsky e Watts se conhecem num bar. O nome até agora é "The Tomboy Convetion", pq né? Mas to pensando em mudar para apenas "A Convenção", e sobre elas todas conversando sobre bebidas, cigarros, esportes(se hóquei é melhor do que piramide), meios de transporte (haha, eu que nem sei diferenciar um carro do outro) habilidades artisticas (todas são, no minimo, ligadas a música, de uma maneira ou de outra), como elas conseguem ser tão awesome, e como elas pegam muito mais homens do que todas as patricinhas juntas no mundo.
E é super complexo pq cada uma é de um universo diferente, que tem tons completamente diversos, e eu quero que tenha humor, mas que seja basicamente sério e plausivel. E provavelmente a única pessoa do mundo que vai se interessar vou ser eu pq só eu coleciono esse tanto de personagens historias no coração e acho que elas fazem sentido.
Mas bem, espero que dê tudo certo.

terça-feira, 3 de março de 2009

Testinho

Desses que vc encontra por aí na internet:


4- the Individualist (oh ow)

you chose BY - your Enneagram type is FOUR (aka "The Romantic") (hum, faz sentido)
"I am unique" (faz sentido tbm)
Romantics have sensitive feelings and are warm and perceptive. (sim)

How to Get Along with Me
Give me plenty of compliments. They mean a lot to me. (nenhuma verdade maior já foi dita sobre mim)
Be a supportive friend or partner. Help me to learn to love and value myself. (sempre bom)
Respect me for my special gifts of intuition and vision. (TOTAL!)
Though I don't always want to be cheered up when I'm feeling melancholy, I sometimes like to have someone lighten me up a little. (certeza demais, eu curto uma melaconlia, mas não quer dizer que não gosto quando tentam me animar)
Don't tell me I'm too sensitive or that I'm overreacting! (eh, já passei dessa fase)

What I Like About Being a FOUR
my ability to find meaning in life and to experience feeling at a deep level (sim!)
my ability to establish warm connections with people (todo meu carisma, babe)
admiring what is noble, truthful, and beautiful in life (sim, tudo que eu busco na vida é a beleza verdadeira)
my creativity, intuition, and sense of humor (dur)
being unique and being seen as unique by others
having aesthetic sensibilities (é claro que a maior parte da minha personalidade se deve a minha facilidade natural de compreender as artes)
being able to easily pick up the feelings of people around me (pra mim o estranho são as pessoas que não percebem os sentimentos dos outros)

What's Hard About Being a FOUR
experiencing dark moods of emptiness and despair (hum, não exatamente, mas eu tenho pensamentos muito sombrios)
feelings of self-hatred and shame; believing I don't deserve to be loved (de novo, não tão intensamente assim)
feeling guilty when I disappoint people (ugh, isso é tão verdade que doí)
feeling hurt or attacked when someone misundertands me (nem tanto)
expecting too much from myself and life (ás vezes)
fearing being abandoned (costumava ser pior)
obsessing over resentments (ha! mais verdade impossivel)
longing for what I don't have (ai, ai)

FOURs as Children Often
have active imaginations: play creatively alone or organize playmates in original games
are very sensitive (verdade verdadeira)
feel that they don't fit in (quando criança eu me achava superior a todas as outras pessoas)
believe they are missing something that other people have (não)
attach themselves to idealized teachers, heroes, artists, etc. (tbm não)
become antiauthoritarian or rebellious when criticized or not understood (sim, eu tive uma fase anarquista que nem te conto)
feel lonely or abandoned (perhaps as a result of a death or their parents' divorce) (minha solidão natural sempre foi muito mais internalizada do que por causa de algum agente externo)

FOURs as Parents
help their children become who they really are
support their children's creativity and originality
are good at helping their children get in touch with their feelings
are sometimes overly critical or overly protective (eu tenho certeza que vou ser uma mãe assim)
are usually very good with children if not too self-absorbed (meu, eu sou excelente com crianças)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

It had to be you


It had to be you
Pedro costumava ser o quieto da dupla, porém de tempos em tempos, Ana entrava em um processo de reclusão que fazia com que ele começasse a usar todas as armas de seu arsenal pra que ela mostrasse uma resposta, qualquer resposta. O que costumava ser um olhar irritado, uma ação mesquinha, ou um comentário ferino. Durante alguns dias nada parecia mudar seu mau humor, até que de repente acordava um dia e os pássaros estariam cantando mais forte ou o sol estaria mais brilhante e ela voltava a ser a criatura saltitante e irritante de sempre. Confundia Pedro terrivelmente, já que ele só tinha grandes mudanças de temperamento quando algo muito bom ou muito ruim acontecia. As vezes ela ficava sem falar com ele por dias e quando ele perguntava porque, ela respondia que o fato dele não saber só piorava a situação. Assim que a maré virava tudo havia sido esquecido.
Ela gostava de pensar que ele era uma alma nobre, um cavalheiro renascentista preso na época errada, mas ele sabia que não era verdade. Seu jeito calmo e contemplativo se deviam a sua imensa timidez e sua gentileza era graças ao medo de se repreendido. Não gostava de confrontos porque apavorava-o a perspectiva de acabar como um bobo. Não é que não tivesse paixão, mas preferia só mostrá-La em ambientes controlados. Por isso desde pequeno tinha se envolvido com futebol. Depois que percebeu como os jogadores, treinadores e torcedores se portavam, como se arrancar a canela ou xingar até a décima geração de um oponente fosse aceitável e até encorajado, ele chegou a conclusão que tinha encontrado seu meio, sua válvula de escape. E ainda por cima, ele era bom. Podia reclamar o quanto quisesse, pois sempre comparecia quando necessário. Ainda por cima aumentava seu círculo social, porque ali no campo não havia restrições, ele brincava com os companheiros, mexia com os adversários, flertava com as meninas que assistiam (Ana deixou ir nos jogos depois de certa idade, ele não tinha muita certeza de porque), e mesmo que assim que pisasse fora do gramado ele voltasse ao jeito de sempre, isso garantia que fosse convidado pra todas as festas e sempre tivesse colegas em trabalhos em grupo.
Já Ana tinha outras coisas em mente quando se envolvia em grupos, amizade mau contava (embora ela fosse amiga de todos). Era ambiciosa e se certificava de sempre se cercar das pessoas mais qualificadas para o que tivesse em mente. Se pretendia ser a líder arrebanhava um grupo de pessoas competentes porém subordinadas. Já quando preferia descansar se intrometia em juntamentos onde podia eleger alguém ao comando que fosse enérgico o bastante, sem encher muito o saco. Tudo que pudesse fazer para alcançar o melhor resultado possível.
Era obcecada por detalhes, embora mantivesse uma aparência descuidada. Obviamente isso também era planejado, não pretendia afastar as pessoas, que se sentiam intimidadas com alguém muito arrumado. Era só olhar pra Pedro, com suas unhas sempre limpas e o cabelo bem cortado e penteado. Era mais admirado do que realmente alguém muito amado. Era uma das coisas que ela mais gostava (e detestava) nele.
Algumas vezes ela o assustava. Tudo podia estar bem e feliz e se alguma coisa, qualquer coisinha que fosse, não correspondesse a suas expectativas ela se desesperava, chorava, arrancava cabelos e soluçava e ele tinha que por os braços ao redor dela bem forte e ficar sussurrando palavras encorajadoras em seu ouvido pra que ela se acalmasse. Normalmente nessas ocasiões ela ficava horas chorando baixinho, o rosto enfiado no pescoço dele, ensopando sua camisa. Ele se perguntava o que a faria tão infeliz. As vezes ele queria desistir e deixá-la pra trás. Dizer que ele não merecia isso, que ele não tinha sido nada além de um bom amigo e que ele não merecia sofrer também. Mas ele tinha medo, medo de que se ele a perdesse não haveria mais ninguém pra ele. Quem mais o entenderia e passaria horas em silencio, apenas observando-o com seus carrinhos e aviões, sem chamá-lo de criança ou algo pior ? Quem o levaria pra ver aqueles filmes meio artísticos e de gente grande, que meninos não deveriam ter nenhum interesse por? Com quem faria sonhos quase impossíveis de ir ser um artista em Budapeste enquanto ela o sustentaria trabalhando pras Nações Unidas?
Ela tinha algumas tiques nervosos. Seu olho se contraía quando nervosa e tinha um milhão de interesses ao mesmo tempo. Enquanto Pedro preferia se concentrar em poucas coisas e ser muito bom nelas, a atenção dela se dispersava facilmente. Uma bola de energia, sempre surgia com uma idéia nova. Eles deveriam aprender a cozinhar. A cantar. Pescar. Jogar vôlei. Ter aulas de etiqueta. Aprender a dançar bolero. Formar uma banda. Fumar. Surfar. Sempre querendo ser a primeira a fazer tudo, aprendeu a dirigir aos doze anos. Ensinou a dirigir aos treze. O piano tinha durado por insistência da mãe, e porque ela achava muito classe, quase como se fosse uma lady. Não havia nada que pudesse impedi-La de conquistar o mundo. Nada.
Naquela vez em que ela insistiu que eles deveriam ir nadar depois de ter tido uma briga feroz com os pais (era o que ela tinha dito), ele ficou com medo de que, no fundo no fundo, ela tivesse se afogado de propósito. Ele nunca chorou tanto e tão forte quanto naquela noite, abraçando o travesseiro e lembrando do rosto branco dela, desfalecido, enquanto o salva vidas fazia respiração boca a boca e massageava seu peito. Pouco tempo depois eles voltaram a andar de mãos dadas. Ele não queria que ela escapasse nunca mais.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ne me quitte pas

Pedro e Ana se conheceram no jardim de infância. Não havia certeza ou lembrança de quem tinha iniciado relações primeiro, ou ainda porque um tinha interessado ao outro em primeiro lugar. Eram amigos desde sempre então, uma constante na vida que mudava a cada dia e ainda assim continuava a mesma, bem na época em que o tempo se estende infinitamente e uma hora pode durar três dias.
Portanto tinham (mais do que) uma vida inteira juntos.
Pedro era daqueles meninos que se mantêm na maior parte do tempo pra si mesmo, gostava de desenhar e de quebra cabeças, era gentil e educado e só se envolvia em maiores confusões quando jogava futebol, atividade que valorizava muito. Só assim era visto perdendo a cabeça, suas sobrancelhas bem juntas, o rosto avermelhado e a voz rouca de quem não está acostumado a falar muito alto. Assim que ele ficou velho o suficiente, tal atitude costumava ser considerada um tanto atraente entre as garotas que o conheciam.
Não era especialmente brilhante, nem especialmente idiota, portanto era deixado em paz na maior parte do tempo. Tinha o riso fácil, mas ele só se alargava o suficiente para formar covinhas quando sua amiga contava uma piada especialmente ruim.
Ana na verdade tinha um excelente senso de humor, mas a muito tinha aprendido que quanto pior fosse a piada mais Pedro se divertia. Vivia com o cabelo bagunçado e o rosto sujo de lama, andava sempre cercada por crianças, de sua idade, mais novas e até mais velhas, porque era um desses ímãs em forma de gente que todo mundo já se deparou alguma vez durante a vida.
Era vista sempre com uma goma de mascar na boca e era muito propensa a usar macacões e calças rasgadas nos joelhos, pelo uso. Ainda assim, era dada a introspecções e sua atividade favorita era ler um livro apoiada nas costas de Pedro. Ela se divertia quando estava cercada por seus súditos e escalava árvores, nadava em rios ou saía em aventuras para salvar o mundo. Mas trocaria tudo isso pelas horas em silêncio que passava na loja do pai de Pedro, atrás do balcão, observando a clientela que mal podia diferenciar uma chave de fenda de uma chave Philiphs.
Os dois se ocupavam desmontando e montando de novo rádios, televisões e eventualmente até um ou dois computadores. Pedro se interessava por modelismo e embora não fosse algo em que ela fosse exatamente capaz (porque mexer com miudezas nunca fora seu forte), se contentava em observá-lo trabalhar, enquanto ouvia música ou jogava paciência. Ás vezes tomavam o ônibus para o centro da cidade à procura de uma peça ou modelo novo e aproveitavam para ir no cinema e tomar sorvete. A primeira vez em que eles foram ver Billy Elliot Ana chorou tanto que ensopou a camisa dele. Se tornou o filme favorito de ambos. Eram dois melancólicos.
Ela começou a tocar piano aos 9 e o único que podia ir ver seus recitais era ele. Era uma das poucas oportunidades em que ela usava vestido e arrumava o cabelo. Era competente, mas nenhuma artista. Ainda assim ele costumava levar algumas flores pra ela. Uma vez tinha assistido um filme na televisão sobre uma concertista e visto a chuva de rosas que caiu sobre o palco no fim do espetáculo. Ele sempre aprendia rápido.
Em dias de tempestade costumavam se refugiar no quarto dela, ombro a ombro, ouvindo música dividindo um fone de ouvido, lendo revistas, as cabeças muito juntas. Comiam sanduíches de presunto com manteiga e tomavam chocolate quente com marshmallow, receita inventada por eles.
No dia em que Ana viu Pedro encostado na parede, sendo beijado por uma amiga dos dois ela sentiu como que afogando. A partir de então voltaram a andar de mãos dadas, hábito que haviam largado quando fizeram cinco anos.
Eles fumaram seu primeiro cigarro juntos. Ele tossiu o tempo todo e disse que nunca mais faria aquilo, enquanto ela manteve a pose até que seu estômago revirou e ela vomitou, sentido o tabaco no boca e no cheiro do cabelo.
Uma vez foram para praia (eles não eram velhos o suficiente pra ter carteira, mas já sabiam dirigir desde que conseguiam alcançar os pedais. Ela aprendeu primeiro), decididos a aprender a surfar. Eles nem chegaram perto de uma prancha. Foi a primeira vez que ficaram bêbados e infelizmente nenhum dos dois se lembraria da primeira vez que se beijaram.