quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Wise men say (only fools rush in)

Havia algo diferente na maneira que ele se reclinou na cama dela essa noite. Que bobagem, pensou, eles já tinham dormido juntos centenas de vezes e pelo menos metade dessas ela estava apaixonada por ele.
Ela se deitou também, usando o braço dele como travesseiro. O sentimento era familiar. Ele começou a brincar com seu cabelo tentando bagunça-lo. Familiar, extremamente familiar. Ele beijou-lhe o topo da cabeça. Okay, isso era um pouco mais raro, mas ainda assim, nada pra se preocupar. Ele escorregou pela cama, e virou de lado, alinhando a cabeça dos dois. Ele fechou os olhos e ela deve ter fechado também, porque de repente o único sentido que importava era o tato, a pressão dos lábios dele. A língua dele, ah, isso que era diferente, que bom que tinha conseguido descobrir.
Amaldiçoou sua capacidade pulmonar, era sempre ela que tinha que parar pra respirar. Talvez se não tivesse chorado antes, seu nariz não teria entupido.
Percebeu que durante o beijo sua perna tinha se enroscado na dele e que agarrava a camisa que ele usava a ponto de amassa-la.
Ele não parecia se importar nem um pouco. Na verdade ela que deveria se importar com o fato da mão dele ter entrado por debaixo da sua blusa e estar repousando em sua cintura. Não se importava.
-Você está vermelha.
-De novo com essa história? Eu já disse que não fico vermelha.
-Fica sim - as pupilas dele estavam imensas- Você fica linda vermelha.
Se o objetivo era enrubesce-la, agora ele definitivamente tinha conseguido.
-Eu te amo, sabia?
-Dur, a gente anda junto desde a quinta série, se não me amasse você já me odiaria por agora.
Ele mordeu o lábio daquele jeito bonitinho que ela conhecia bem.
-Eu não sabia, realmente não sabia
-Bom, você sempre foi meio lerdo. Ainda bem que eu te suporto, senão já teria se perdido pelo caminho.
-Eu sei, você é praticamente uma bússola. Só acho que seu norte é um pouco diferente da maioria das pessoas.
Se suas mãos não estivessem firmemente entrelaçadas nos cabelos dele teria que ter lhe dado um tapa de aviso.
Ele riu e a beijou novamente, apertando sua cintura.
-Então, desde quando você sabe?
-Já faz um tempo.
-Mas quanto? Eu quero saber quanto tempo eu passei sem beija-la quando eu podia.
Ela sorriu, ele conseguia ser melodramático quando queria.
-Ah, você sabe, umas três semanas.
-TRÊS SEMANAS?! Eu aqui me sentindo culpado por ter feito minha melhor amiga passar por anos de silencioso sofrimento por não poder me ter...
-Nossa, como você é convencido. Silencioso sofrimento? Você parece uma menina.
A perna dela tinha apenas apertado mais sua cintura, enquanto a mão dele traçava círculos em sua barriga.
-e ela me diz três semanas. E ainda tem a audácia de me chamar de lerdo.
-Hey, eu nunca disse que era muito esperta. E foram três semanas dificeis. Eu devo ter tido esse silencioso sofrimento que você diz.
Ele rolou por cima dela e a beijou com mais carinho e ternura que das outras vezes.
-Me desculpe.
-Está perdoado.
Houve um momento de hesitação. Ela começou a desabotoar a camisa dele. Ele se afastou sutilmente.
-O que foi?
-Não, nada.
-Ora vamos, você pode me contar.
-É só que, a gente se conhece a tanto tempo, e agora tá tudo andando tão depressa. Eu tenho medo que alguma coisa aconteça e a gente passe a se odiar.
-Eu nunca poderia te odiar. E não é por nada não, mas eu já te vi sem camisa e por incrivel que pareça consegui me controlar.
-Nossa, mas deve ter sido um esforço.
-Oh, você nem imagina. Todo o silencioso sofrimento e tal.
-Agora você tá só me zoando.
-Claro, e você serve pra mais alguma coisa?
Ele rolou de lado e a fitou por debaixo dos cílios.
-Eu posso dormir aqui?
-Humm, só se tirar a camisa.
-Ah, igualdade de condições!
-Mas você vai ter que se controlar, não morra de emoção, ou coisa assim.
-Eu prometo, estarei aqui em silencioso sofrimento.
Ela tirou a blusa e se aninhou no abraço dele. Com uma pancada desligou o abajur.
-Boa noite.
-Boa noite, mon cherré.
-Agora você virou uma menina de vez.
Ela fechou os olhos e sorriu sentindo o perfume dele.

5 comentários:

Unknown disse...

Esse ficou beeeeeeeeeeem bom.

Unknown disse...

Inclusive, engraçado de verdade. Porque quase sempre, o que era pra ser engraçado perde a graça qndo está escrito. Mas eu ri do silencioso sofrimento E TAL. o "e tal" é importante.

Pri disse...

=D
gostei

Renata disse...

intenso O.o



muito intenso.

la texana disse...

então, esse foi importante pra mim porque se existe um cenario romantico que é absolutamente meu favorito (sempre foi e provavelmente sempre vai ser) é dois melhores amigos de desde de sempre que lenta e gradualmente descobrem que estão apaixonados e se um dia eu escrever um livro é esse tipo de relacionamento que eu quero escrever. e tem um equilibrio bem delicado, porque são duas pessoas que estão muito confortaveis uma com a outra, mas ao mesmo tempo estão numa situação nova em que eles não sabem direito ainda como agir. e é pra ser bonitinho sem ser meloso ou melodramatico e por isso eu queria duas pessoas que sabiam exatamente como se zoar e que vivem criando piadas internas e coisa assim. tem algumas frases que me doeu colocar porque eu achei muito clichê, mas como o texto era justamente a descontrução do clichê se eu tirasse elas mas pra frente não faria sentido. ah, e era pra ser com menos dialogo, mas eu lembrei que o rafa fala que gosta dos meus dialogos e como eu achei que eu consegui escrever duas vozes bem distintas, deixei. intenso? eu achei tão leve...