terça-feira, 20 de maio de 2008

Eu me tornei a morte. Eu sou a destruidora do mundo

Eu sou uma pessoa sensível. Eu choro vendo filmes, lendo livros, ouvindo músicas e eu fico toda quente por dentro quando me contam histórias de amor, de amizade e de famílias fantásticas.
Eu também sou realista, eu consigo me afastar quando eu paro pra pensar sobre guerras e revoluções e outros momentos históricos. Quer dizer, eu consigo, sem grande esforço ver que a tentativa nazista e Hitler tinham lógica, quando pensado de uma maneira nacionalista, e Getúlio Vargas é pra mim um dos estadistas mais brilhantes que o país já teve. Isso não quer dizer que eu seja nazista ou getulista, e não quer dizer que eu não veja todos os grandes erros morais que envolvem esses tipos de histórias. Mas a verdade é que foram riscos tomados com certas intenções, que tinham um propósito bem definido por trás. Certos sacrifícios devem ser feitos para certos resultados serem apresentados. Essa é a história humana desde o princípio, com exemplos como a inquisição, a escravatura de hebreus por egípcios e toda aquela bagunça que eram as civilizações americanas pré-colombianas.
Eu não concordo, mas eu entendo.
Então quando eu decidi escrever alguma coisa sobre os cientistas que construíram a bomba atômica, um textinho desses meus, eu pensei que eu não teria problemas. Eu consigo racionalizar sobre essas coisas, certo? Eu consigo me distanciar emocionalmente o suficiente, não?
Mas o negocio é, eu não consigo. A frase do titulo é supostamente do Oppenheimer, depois que ele viu os primeiros testes da bomba atômica em Los Alamos, e foi ela que me deu inspiração, porque eu achei devastadoramente apropriada.
Meu plano era o seguinte, dar uma estudada no assunto, descobrir quem eram os caras mais importantes do projeto e depois passar uns dias remoendo tudo pra ver se saia alguma coisa
legal e quem sabe relevante.
Mas não rola, eu fui ver um documento intitulado Atomic Bomb Timeline e o primeiro nome é Issac Newton. Só nisso algum sinal de alerta começou a soar no meu corpo. Newton? Sério? Faz sentido, mas ver o nome dele misturado no negócio foi chocante. Algumas linhas pra baixo e vem Einsten, e sim, eu sabia que o Einstein estava envolvido, mas ali o que é citado é a gloriosa e genial teoria da relatividade e parece que meu chão desaparece. Continuo lendo uma ou outra coisa mas eu tenho que parar porque eu estou fisicamente passando mal.
Foda-se a imparcialidade. Eu não perdoo, havia escolha e nada justifica uma arma dessa, uma chacina dessa. Eu acredito que por mais feia que seja, a guerra pode ser gloriosa, mas não nesses termos, não dessa forma tão covarde.
Eu teria enlouquecido se estivesse envolvida, eu teria enlouquecido se fosse a garçonete que servia café no diner em que eles almoçavam. Como eles sobreviveram tendo martelado os rebites da bomba é inexplicável pra mim. Alguém deveria ter parado, alguém deveria ter tido bom senso e sabotado o negócio todo, tantas coisas difíceis são necessárias que facilmente alguma deveria ter errado. E não deu, por duas vezes não deu. E eu não perdoo.
Alguma coisa dentro de mim quebrou. Pra sempre. A humanidade é feia e eu questiono a validade dela no mundo. Eu costumava achar que a gente era humano pra experimentar todos os sentimentos com nuances que a outros seres não são permitidos. Amar, e brigar também. Ler livros e ver filmes e pintar quadros, essas deveriam ser as maiores realizações que alguém poderia aspirar, porque isso que é único na nossa espécie. Não matar quem vier pela frente porque sim, isso qualquer coisa é capaz de fazer. Isso é ser irracional.
Eu não sou pacifista, eu acredito que você deve por a defesa de seu grupo acima de tudo, mas não ás custas de tudo.
Mas é como o colega do Oppenheimer sussurrou no seu ouvido aquele dia, agora somos todos filhos da puta.

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa, esse post ficou muito bom. (!)
Mas, na verdade, eu acho muito fácil entender as bombas: a parada tava ali, pronta, era só apertar um botão, aí apertaram pra ver no que dava. Ponto.
Do jeito que você fala, parece que tudo é tão premeditado e com lógica, enquanto pra mim só mostra que estas organizações à la NERV ou essas personalidades à la Gandalf, que sabem de tudo e sempre estão um passo a frente, simplesmente não existem.
A gente tá aqui, no mundo, agora, e ninguém sabe o que pode acontecer, ninguém tem controle de nada e, de repente, apertar botões se tornou tão fácil...

Renata disse...

achei um belo post também, mas tantos comentários absolutamente espíritas me vieram à cabeça que eu acho melhor ficar quieta.



Mas lembre-se: existe uma maneira de dizer eu goooostooo!