Eu sou uma pessoa sensível. Eu choro vendo filmes, lendo livros, ouvindo músicas e eu fico toda quente por dentro quando me contam histórias de amor, de amizade e de famílias fantásticas.
Eu também sou realista, eu consigo me afastar quando eu paro pra pensar sobre guerras e revoluções e outros momentos históricos. Quer dizer, eu consigo, sem grande esforço ver que a tentativa nazista e Hitler tinham lógica, quando pensado de uma maneira nacionalista, e Getúlio Vargas é pra mim um dos estadistas mais brilhantes que o país já teve. Isso não quer dizer que eu seja nazista ou getulista, e não quer dizer que eu não veja todos os grandes erros morais que envolvem esses tipos de histórias. Mas a verdade é que foram riscos tomados com certas intenções, que tinham um propósito bem definido por trás. Certos sacrifícios devem ser feitos para certos resultados serem apresentados. Essa é a história humana desde o princípio, com exemplos como a inquisição, a escravatura de hebreus por egípcios e toda aquela bagunça que eram as civilizações americanas pré-colombianas.
Eu não concordo, mas eu entendo.
Então quando eu decidi escrever alguma coisa sobre os cientistas que construíram a bomba atômica, um textinho desses meus, eu pensei que eu não teria problemas. Eu consigo racionalizar sobre essas coisas, certo? Eu consigo me distanciar emocionalmente o suficiente, não?
Mas o negocio é, eu não consigo. A frase do titulo é supostamente do Oppenheimer, depois que ele viu os primeiros testes da bomba atômica em Los Alamos, e foi ela que me deu inspiração, porque eu achei devastadoramente apropriada.
Meu plano era o seguinte, dar uma estudada no assunto, descobrir quem eram os caras mais importantes do projeto e depois passar uns dias remoendo tudo pra ver se saia alguma coisa
legal e quem sabe relevante.
Mas não rola, eu fui ver um documento intitulado Atomic Bomb Timeline e o primeiro nome é Issac Newton. Só nisso algum sinal de alerta começou a soar no meu corpo. Newton? Sério? Faz sentido, mas ver o nome dele misturado no negócio foi chocante. Algumas linhas pra baixo e vem Einsten, e sim, eu sabia que o Einstein estava envolvido, mas ali o que é citado é a gloriosa e genial teoria da relatividade e parece que meu chão desaparece. Continuo lendo uma ou outra coisa mas eu tenho que parar porque eu estou fisicamente passando mal.
Foda-se a imparcialidade. Eu não perdoo, havia escolha e nada justifica uma arma dessa, uma chacina dessa. Eu acredito que por mais feia que seja, a guerra pode ser gloriosa, mas não nesses termos, não dessa forma tão covarde.
Eu teria enlouquecido se estivesse envolvida, eu teria enlouquecido se fosse a garçonete que servia café no diner em que eles almoçavam. Como eles sobreviveram tendo martelado os rebites da bomba é inexplicável pra mim. Alguém deveria ter parado, alguém deveria ter tido bom senso e sabotado o negócio todo, tantas coisas difíceis são necessárias que facilmente alguma deveria ter errado. E não deu, por duas vezes não deu. E eu não perdoo.
Alguma coisa dentro de mim quebrou. Pra sempre. A humanidade é feia e eu questiono a validade dela no mundo. Eu costumava achar que a gente era humano pra experimentar todos os sentimentos com nuances que a outros seres não são permitidos. Amar, e brigar também. Ler livros e ver filmes e pintar quadros, essas deveriam ser as maiores realizações que alguém poderia aspirar, porque isso que é único na nossa espécie. Não matar quem vier pela frente porque sim, isso qualquer coisa é capaz de fazer. Isso é ser irracional.
Eu não sou pacifista, eu acredito que você deve por a defesa de seu grupo acima de tudo, mas não ás custas de tudo.
Mas é como o colega do Oppenheimer sussurrou no seu ouvido aquele dia, agora somos todos filhos da puta.
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2 comentários:
Nossa, esse post ficou muito bom. (!)
Mas, na verdade, eu acho muito fácil entender as bombas: a parada tava ali, pronta, era só apertar um botão, aí apertaram pra ver no que dava. Ponto.
Do jeito que você fala, parece que tudo é tão premeditado e com lógica, enquanto pra mim só mostra que estas organizações à la NERV ou essas personalidades à la Gandalf, que sabem de tudo e sempre estão um passo a frente, simplesmente não existem.
A gente tá aqui, no mundo, agora, e ninguém sabe o que pode acontecer, ninguém tem controle de nada e, de repente, apertar botões se tornou tão fácil...
achei um belo post também, mas tantos comentários absolutamente espíritas me vieram à cabeça que eu acho melhor ficar quieta.
Mas lembre-se: existe uma maneira de dizer eu goooostooo!
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