Lama empapava calças escorregadias.
-Vai! Eu te dou cobertura.
Foi. E a leveza da mente naquele momento era imensurável. Sabe quando parece que seu corpo não pertence a você mesmo? Assim.
Nem ouvia mais os tiros ou sentia a chuva gelada. Escorregou no momento em que seria atingido. Sorte. A próxima bala atingiu o inimigo, seu espelho complementar.
Agarrou a placa de identificação metálica num gesto impensado. Não queria ser perder.
Continuou sua jornada, saltando sobre campos previamente floridos, gostava de margaridas. De um fôlego só, mergulhou no buraco da salvação. Olhou pra frente, cansado, e pôs-se a imaginar o resto do longo caminho, como seria possível voltar pra casa.
Se sentiu como Orfeu e teve que olhar pra trás. Encontrou olhos concentrados, uma arma em punho, ombros retesados.
Gritou:
-Vem! Eu te dou cobertura.
domingo, 27 de abril de 2008
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Cinco minutos para o fim do mundo
-Olha pra mim.
É difícil, ela sabe que vai ouvir o que não quer, mas é uma ordem tão pura, honesta, preocupada e sem malícia que é impossível não obedecer.
-Você acha isso normal? Ela tá lá naquele hospital, sabe-se lá em que estado e você muda pra casa dele. Você não vai substituir ela, sabia?
-Não é nada disso. Ele, ele precisa de mim. Ele está sozinho agora, ele é meu melhor amigo, eu tenho medo do que possa acontecer se eu não estiver lá.
A pena que está incrustada em seus olhos dói mais do que qualquer reprimenda.
-Eu só não quero que ele te machuque.
-Ele nunca faria isso de propósito.
-Eu sei. É disso que eu tenho medo.
.
.
.
Ela fica no quarto de hóspedes, ao lado do dele. Dorme sem problemas até que ouve um barulho e quase tem um ataque do coração. Ele está lá, parado no meio do quarto, lágrimas descendo pelo rosto.
Ela estende a mão, chamando e ele deita do lado dela, seus dedos entrelaçados. A cabeça dele repousa sobre sua barriga.
-Eu tive um pesadelo.
-Shh, já acabou, eu estou aqui.
-Mas eu, eu não posso deixar...
-Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Ele aperta a mão dela mais forte e adormece.
Eles dormem sempre assim, aconchegados um no outro. Um dia os pesadelos acabam, nesse dia ele beija ela.
Ela tem medo que ele peça desculpas, mas ele não pede. Os dois dormem bem a noite inteira.
O que começa com um beijo casto, ascende, até o ponto em que a única coisa que os dois usam debaixo das cobertas é pele.
Então ele pára.
-Não, eles vão vir atrás de você.
Ela suspira frustrada.
-Você sabe que não importa, não é? A nossa relação já é mais próxima que a que vocês tinham, se eles me quisessem já teriam vindo.
Ele olha com tanta tristeza que ela quer abraça-lo. Mas ela vem fazendo isso o tempo todo e de nada adiantou. É hora de tough love.
-Sabe meus pesadelos, eles eram sobre você, sobre eles tirarem você de perto de mim. Eu não sobreviveria.
Ela sorri com dor.
-Claro que sobreviveria. Você sobrevive sem ela.
-Ela não é você. Você é mais.
Eles fazem amor o mais silenciosamente possível, como se tentassem impedir algum espírito da casa de acordar.
Ela vai ao hospital levando flores e olha dentro daqueles olhos vazios.
-Me desculpe, mas ele é meu agora. Ele sempre foi.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Reflexões de uma mente inconformada
Eu li isso outro dia num forúm, e achei tão acertado, e tão justamente o que eu penso mas que nunca consegui expressar (porque eu tenho raiva cara, e um coração partido) que eu na hora pensei que não poderia ficar sem postar aqui. Concorde ou não, pelo menos respeite:
"Eu entrei para o mundo de Harry Potter tarde demais. O trem já estava para lá de acabando e porque não dizer acabado! O livro 6 já tinha sido publicado e a meleca toda já tinha sido feita! No entanto, mesmo acreditando e querendo e compreendendo os livros por uma ótica pouco aceita, eu entrei de cabeça no fandom e tentei expor meu ponto de vista!
No entanto, o meu ponto de vista sempre foi algo muito além do que uma simples disputa de shippers. O que eu realmente queria mostrar era a oscilação constituinte da compreensão/interpretação/situação. Eu queria que as pessoas entendessem que ler um livro é algo muito mais rico do que tentar entrever ali apenas UMA lei ou UMA compreensão/interpretação/situação. Eu queria que elas vissem que um livro só existe na relação leitor-livro e que o autor perde o domínio do seu livro assim que ele entra em contato com um outro leitor que não ele mesmo! O livro está sempre disposto na estante da sua casa ou da livraria ou da biblioteca, mas o que o torna LIVRO é a relação com o leitor. E desta relação, tudo pode surgir. Afinal, quando se lê um livro, se traz para a leitura não só as palavras contidas nele, mas também toda a bagagem que o leitor adquiriu durante sua vida. Este entrelaçamento de horizontes é o que possiblita tantos modos diferentes e às vezes parecidos de compreender/interpretar/situar um livro. Era justamente isto que eu queria que a cannonlândia entendesse. Ser H² em uma mar de pretensas informações e entrevistas da J.K ditas RH era possível porque ler o livro é trazer muito mais para esta relação do que um simples "a J.K disse"!
Se a cannonlândia tivesse entendido isto, ela teria compreendido porque somos H² e porque até mesmo o shipper deles, por mais que tenha ocorrido em um final tosco, continua sendo UMA possibilidade dentre muitas. O que torna H² real nunca foi o livro em si, mesmo porque o livro em si não existe. O que sempre tornou H² real foi a relação livro-leitor!
Dizer que esta relação está errada, é trazer para uma ambiência tão rica um posicionamento fundamentalista e encerrar o que é frutífero em uma determinação não cabível ao espaço da leitura.
Por isto tudo e por ver que nem a J.K pensa assim (a partir das entrevistas e discursos dela), é por isto tudo que eu nunca gostei dela.
Até o quinto livro, ela ainda deixa entrever sua obra enquanto ambiência frutífera para todos os modos de compreensão/interpretação/situação. A partir do momento que Harry Potter tornou-se receita de bolo a ser seguida, tudo perdeu a graça. A leitura não mais se deu como espaço de interação livro-leitor e a série caiu em desgraça.
Infelizmente, o cair em desgraça veio coroado com o shipper RH ou HG. Para falar a verdade, nem a cannonlândia merecia isto. Nenhum fã merecia. Não porque deu RH ou HG no final tosco, mas porque isto impossibilitou a tão frutífera ambiência existente até então!
Por tudo isto, pela perda da magia, eu só tenho a lamentar! Lamento a má condução da série. Lamento a riqueza perdida. Lamento o fato de que a grande maioria prefere a mediocridade à ambiência oscilatória da compreensão/interpretação/situação.
Mais do que lamentar a perda de um bom final para a série, eu lamento o quão tacanho é o ser humano!
Eu sempre quis respeito ao diferente e não concordância!
Para mim, o posicionamento da cannonlândia sempre foi uma amostra de que a humanidade não está preparada para a oscilação, seja no mundo de Harry Potter, seja em qualquer outro.
Por isto eu digo: a minha crítica sempre foi ao humano e a forma dele conduzir sua existência no mundo. Harry Potter era apenas um veículo mostrante da imaturidade intelectual e emocional reinante entre nós! "
"Eu entrei para o mundo de Harry Potter tarde demais. O trem já estava para lá de acabando e porque não dizer acabado! O livro 6 já tinha sido publicado e a meleca toda já tinha sido feita! No entanto, mesmo acreditando e querendo e compreendendo os livros por uma ótica pouco aceita, eu entrei de cabeça no fandom e tentei expor meu ponto de vista!
No entanto, o meu ponto de vista sempre foi algo muito além do que uma simples disputa de shippers. O que eu realmente queria mostrar era a oscilação constituinte da compreensão/interpretação/situação. Eu queria que as pessoas entendessem que ler um livro é algo muito mais rico do que tentar entrever ali apenas UMA lei ou UMA compreensão/interpretação/situação. Eu queria que elas vissem que um livro só existe na relação leitor-livro e que o autor perde o domínio do seu livro assim que ele entra em contato com um outro leitor que não ele mesmo! O livro está sempre disposto na estante da sua casa ou da livraria ou da biblioteca, mas o que o torna LIVRO é a relação com o leitor. E desta relação, tudo pode surgir. Afinal, quando se lê um livro, se traz para a leitura não só as palavras contidas nele, mas também toda a bagagem que o leitor adquiriu durante sua vida. Este entrelaçamento de horizontes é o que possiblita tantos modos diferentes e às vezes parecidos de compreender/interpretar/situar um livro. Era justamente isto que eu queria que a cannonlândia entendesse. Ser H² em uma mar de pretensas informações e entrevistas da J.K ditas RH era possível porque ler o livro é trazer muito mais para esta relação do que um simples "a J.K disse"!
Se a cannonlândia tivesse entendido isto, ela teria compreendido porque somos H² e porque até mesmo o shipper deles, por mais que tenha ocorrido em um final tosco, continua sendo UMA possibilidade dentre muitas. O que torna H² real nunca foi o livro em si, mesmo porque o livro em si não existe. O que sempre tornou H² real foi a relação livro-leitor!
Dizer que esta relação está errada, é trazer para uma ambiência tão rica um posicionamento fundamentalista e encerrar o que é frutífero em uma determinação não cabível ao espaço da leitura.
Por isto tudo e por ver que nem a J.K pensa assim (a partir das entrevistas e discursos dela), é por isto tudo que eu nunca gostei dela.
Até o quinto livro, ela ainda deixa entrever sua obra enquanto ambiência frutífera para todos os modos de compreensão/interpretação/situação. A partir do momento que Harry Potter tornou-se receita de bolo a ser seguida, tudo perdeu a graça. A leitura não mais se deu como espaço de interação livro-leitor e a série caiu em desgraça.
Infelizmente, o cair em desgraça veio coroado com o shipper RH ou HG. Para falar a verdade, nem a cannonlândia merecia isto. Nenhum fã merecia. Não porque deu RH ou HG no final tosco, mas porque isto impossibilitou a tão frutífera ambiência existente até então!
Por tudo isto, pela perda da magia, eu só tenho a lamentar! Lamento a má condução da série. Lamento a riqueza perdida. Lamento o fato de que a grande maioria prefere a mediocridade à ambiência oscilatória da compreensão/interpretação/situação.
Mais do que lamentar a perda de um bom final para a série, eu lamento o quão tacanho é o ser humano!
Eu sempre quis respeito ao diferente e não concordância!
Para mim, o posicionamento da cannonlândia sempre foi uma amostra de que a humanidade não está preparada para a oscilação, seja no mundo de Harry Potter, seja em qualquer outro.
Por isto eu digo: a minha crítica sempre foi ao humano e a forma dele conduzir sua existência no mundo. Harry Potter era apenas um veículo mostrante da imaturidade intelectual e emocional reinante entre nós! "
Só pra completar, eu acho que a partir do momento em que Harry Potter deixou de ser um livro com múltiplas interpretações perdeu completamente a graça, então é por isso que essas entrevistas pós-sétimo livro me irritam tanto. Deixe mais coisas em aberto, é muito mais interessante. Virar e falar que o Dumb é gay, por exemplo, é tão sem propósito, era muito mais divertido quando era apenas especulação, e quem precisava daquele epilogo mongol (talvez seja a coisa que eu vi mais gente do fannon concordar que foi horrível). J K poderia ter entrado na historia por causa da sua historia, agora só vai entrar por causa dos números que sua história fez.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Filosofia de Vida
Apenas mais uma de amor
Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer
Eu acho tão bonito
Isso de ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz (eu sempre falo vulgar)
É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber
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