domingo, 8 de junho de 2008

Degraus do Metropolitan

E ela se encontra mais uma vez numa dessas festinhas no Greenwich Village, dez anos depois do Greenwich Village deixar de ser um point legal.
Mas não tem importância , porque ela está usando seus óculos geek chick que fazem todo mundo se apaixonar por ela, e bebendo uma cerveja importada da Alemanha de graça.
Aquele menino bonitinho britânico continua olhando pra ela e a verdade é que ele é muito bonitinho e ela já bebeu um pouco demais , e ele tem dezessete. Ela se pergunta se já não está velha demais pra meninos de dezessete anos, mas ele se aproxima e seu sorriso faz seu rosto ficar cheio de covinhas e ela já não liga.
Cata uma garrafa de um whiskey meio caro e os dois sobem pro telhado.
Eles começam a conversar e ela percebe que ele não é dos mais brilhantes, apesar do sotaque e isso a desanima um pouco. Pensa com seus botões desde quando ela se importa se alguém é esperto se for atraente o suficiente?
Pensa que há cinco anos teria sido diferente, mas é mentira. Ela tinha sido uma dessas pretensiosas que sempre preferiu uma boa conversa à um rosto perfeito. Como se algum adolescente tivesse uma conversa decente.
Na verdade com o passar dos anos ficou mais flexível com a questão do Q.I. Hoje já deve ter bebido demais.
E ele conta como o pai do melhor amigo dele morreu e ele viu o corpo quando os paramédicos chegaram e disseram que nada podia ser feito. Ele começa a chorar e ela pensa que há cinco anos atrás ela teria sentido compaixão e até poria uma mão nas costas dele em solidariedade.
Agora ela só pensa que essa deve ser a primeira vez que ele bebe de verdade e é daí que as lágrimas vêm. E ele chorando é uma coisa bela, as lágrimas manchando a pele branca-transparente, como se fosse alérgico a água.
Ela tem vontade de soca-lo, só pra acabar com essa perfeição. Avisar que a vida é assim mesmo, que é um corpo que os paramédicos não podem salvar por dia, e que é melhor ele se acostumar.
Ela se pergunta quando ela ficou tão mórbida e pensa que há cinco anos atrás era diferente. Mas é mentira, porque com dezessete anos ela era mais mórbida que nunca, porque nem tinha começado a viver. Nunca tinha saído do Brasil, nunca tinha visto a primavera em Paris, ou andado na chuva Londrina, ou dormido ao relento numa pradaria espanhola. Principalmente nunca tinha ido a Nova York, nunca tinha descoberto que o Greenwich Village era não-legal-porém-legal, ou feito refêrencias de musicais da Broadway consigo mesma.
E ela morre de inveja dele, porque ele pode ser não tão brilhante, mas ele já está longe de casa, e bebendo whiskeys caros com uma mulher cinco anos mais velha e ele é lindo e intocado e tão jovem.
Ele pára de chorar e oferece um cigarro e ela pensa quando foi que fumar cigarros ficou cool de novo e se acha velha.
Ela se levanta para ir embora e nem pensa em beija-lo, mas ele toca seu pulso com gentileza e ela pára.
Ele anota um telefone e um endereço num cartão que tinha no bolso e diz que se um dia ela passar por Londres é pra procurá-lo.
Ele sorri aberto e olha com uma admiração tão pura que ela acaba chegando a conclusão que talvez não ter mais dezessete não seja tão ruim assim.

6 comentários:

Unknown disse...

Do carajo esse post.
E eu me sinto bem dessa forma quando penso em quanto eu estou velho-porém-nem-tão-velho-assim.

Renata disse...

É verdade, quando foi que fumar virou cool de novo?


Adorei o texto também, e sabendo que vc nem conhece o lugar que vc descreve só torna mais foda =]

la texana disse...

ah, mas com a overdose de gossip girl e how I met your mother que eu ando tendo, a impressão é que eu conhelo melhor n.y. do que brasilia.

Íris disse...

è muito ótimo o filme!

Íris disse...

Gostei do post, ficou interessante a história!
É tão engraçado pensar q já fui um adolescente e q não sou mais!!!!!!!

L.J. Becker disse...

Realmente, um texto muito bom, muito perturbador.
E no final, crescer eh isso mesmo neh? Pobre rapaz, tao ingenuo. As coisas vao perdendo um pouco o sentido quando vai se ficando mais velho. rsrs Mas eu sou suspeito pra falar: quero ser crianca de novo!!!
ahahahahah
Fumar eh ponto facultativo. Namorar pessoas mais jovens ou mais velhas eh ponto culminante. rsrsrs